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  • Foto do escritorM. Marinho

Moro freia reeleição de Bolsonaro

No dia 1º de maio de 2020, ou seja, a quase dois anos do pleito eleitoral que pode mudar o presidente do Brasil, uma parceria entre a consultoria Travessia Estratégia de Marketing e a Renascença DTVM corretora produziu uma pesquisa de intenção de votos onde 1503 pessoas foram questionadas sobre: "se tivesse eleição para presidente hoje, em qual destes candidatos você votaria?"


Foto: Reprodução

A pesquisa segue critérios técnicos e apresenta 95% de confiabilidade, com 3% de margem de erro. O inquérito foi realizado via telefone entre os dias 29 e 30 de abril. Foram apresentados 6 cenários possíveis, estimulando os respondentes a indicar um dos nomes apresentados.


É muito importante que fique claro que qualquer pesquisa sobre intenção de votos fora do período eleitoal, e neste caso principalmente onde estamos distantes da data das eleições em questão, tem potencial muito maior de apresentar elementos de recall e simpatia do que, de fato, desejo de votar. Além disso, é importante analisarmos os contextos onde os inquéritos foram realizados e analisá-los em perspectiva do potencial de mudança e/ou manutenção das opiniões ao longo do tempo.


Alinhados com todas as outras pesquisas publicadas recentemente por vários institutos, como o Datafolha, os resultados obtidos pelo atual presidente Jair Bolsonaro colocam-no na primeira posição nas intenções de votos em todos os cenários, oscilando entre 22% e 26% a depender de quais concorrentes estão no páreo. Nas pesquisas sobre apoio ao presidente divulgadas em 2020 temos visto um teto próximo dos 30% de menções positivas, o que pode denotar uma crisitalização nos apoiadores de Bolsonaro e, assim, uma possibilidade de limitação de crescimento para disputar uma reeleição.


Aprovação do presidente (foto:reprodução)

Outro ponto interessante para analisarmos é a tendência de aumento entre os que consideram a atuação de Jair Bolsonaro como ruim/péssimo, visto que os que a julgam de "regular para ruim" já é maior do que os que a consideram de "regular para bom". Ainda temos que lembrar o atual momento em que vivemos - Pandemia de COVID-19 - e as dificuldades do governo federal em apresentar soluções e, sequer, apoio aos estados e municípios.


Após a saída de Sérgio Moro do ministério da justiça, e principalmente pela forma como tudo aconteceu, é coerente considerarmos que houve um racha na base de apoio do presidente Bolsonaro. Divulgado nesta pesquisa como um possível player para disputar a presidência da república, Moro já entra pontuando bem entre os nomes mais conhecidos do cenário político atual. Apresentando intenções, caso as eleições fossem hoje, entre 16% e 21% dos votos, o ex-juiz aparece em terceiro nos cenários onde seu nome aparece, tirando votos de Bolsonaro e atrapalhando o crescimento de Ciro Gomes e Luciano Huck.

Foto: Reprodução

Analisando os estratos sociais a que pertencem os respondentes desta pesquisa nos ficou clara a divisão entre os bolsonaristas, principalmente quando verificamos o perfil dos eleitores de ambos os candidatos Moro e Bolsonaro: mais velhos, mais ricos e mais evangélicos. Neste ponto, principalmente no tocante aos eleitores evangélicos, o atual presidente aparenta ter vantagem.

Foto: Reprodução

Os dois principais nomes do Partido dos Trabalhadores continuam performando bem nesta pesquisa. Apesar de Lula estar inelegível pela lei da ficha limpa, é dele a segunda maior intenção de votos em todos os cenários onde aparece. Haddad surge em segundo e, ainda nas fileiras PTistas, o governador da Bahia, Rui Costa, chega a pontuar com 7% de intenções, à frente de Dória(PSDB) e Amoêdo(NOVO).

Foto: Reprodução

Ciro Gomes(PDT) cresce nos cenários sem os PTistas Lula e Haddad, conseguindo ainda, mesmo no cenário onde Fernando Haddad aparece em segundo, capturar uma parte das intenções de votos que seriam de Lula caso fosse ele o candidato do PT. É evidente que a transferência de votos de Lula para qualquer candidato, mesmo sendo do seu partido, não é automática, como ficou comprovado em 2018. Vale lembrar que atualmente nem Ciro e nem Haddad exercem mandatos, o que lhes tira um pouco o potencial de exposição na grande mídia, em contraponto com o que tem acontecido com os outros possíveis candidatos aventados na pesquisa, os governadores João Doria (SP), Wilson Witzel (RJ), Flávio Dino (MA) e Rui Costa (BA).


Outras duas figuras que surgem bem são os ex-ministros Sérgio Moro (sem partido) e Luiz Henrique Mandetta (DEM). Como dito acima, Moro é, atualmente, um forte player para dividir votos com Bolsonaro, e Mandetta surge com intenções que superam os já manifestos interessados na presidência em 2022, os governadores João Doria (PSDB) e Wilson Witzel (PSC). Na minha leitura, Mandetta deve ter outros interesses em 2022, mas também pode ser um aliado interessante - talvez um vice - nas eleições presidenciais. Por outro lado, Moro tem potencial de crescimento real para ocupar espaço em 2022. A depender dos seus próximos passos, das aproximações que fizer e, principalmente, de como sair dessa guerra de narrativas com o presidente Bolsonaro, que o levou para a cadeira de depoente na Polícia Federal de Curitiba - PR.


Entre os midiáticos que despontam na pesquisa da consultoria Travessia, o nome de Luciano Huck (sem partido) aparece no meio da tabela. Luciano, que teve seu balão de ensaio nas eleições de 2018, apresenta boa penetração entre eleitores mais jovens e humildes. Com espaço na grande mídia e excelentes relações com o mercado financeiro, Huck também tem potencial de crescimento no atual cenário de rejeição aos nomes mais tradicionais da política nacional. Porém, para quem acompanha de perto os bastidores do Poder Político, é sabido que esses nomes que possuem apelo popular midiático precisam se ancorar em estruturas políticas e partidárias consolidadas para emergir com potencial de vitória. Sinceramente não acredito que alguma outra pessoa encontre a tempestade perfeita para ser eleito, como foi o caso de Jair Bolsonaro em 2018: anti-PTismo/fragmentação das oposições/facada.


Vivemos um momento político onde há forte rejeição aos nomes de esquerda. Também é preciso considerar que alguns dos players possuem menor exposição e reverberação de seus nomes do que outros. Desta forma é coerente avaliarmos que todos, a depender de como ocuparem espaços de comunicação e construirem suas narrativas até 2022, possuem potencial de crescimento. Obviamente que a estrutura e o planejamento das ações comunicacionais de cada um dos possíveis postulantes ao cargo máximo da república é que confirmarão o potencial de crescimento ou não dos nomes. Em última instância, é preciso lembrar que as pessoas não votam em quem elas não conhecem, e seu nível de conhecimento, em sua imensa maioria, é sempre um conhecimento mediado pelos canais de comunicação on e offline.


Uma das máximas que aprendi em minha atuação como pesquisador, professor e consultor de Comunicação e Marketing Político foi: uma eleição sempre é vencida pelo candidato certo, no momento certo, fazendo a campanha certa. E sobre isso ainda temos muito a conversar.


Marcos Marinho é professor, pesquisador e consultor de Marketing e Comunicação Política.


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